Beaujolais. A maioria das pessoas já ouviu esse nome, mas muitos ainda o associam ao Beaujolais Nouveau — aquele vinho leve, frutadinho, feito para ser bebido logo após a colheita. No entanto, o que pouca gente sabe é que, no coração dessa região francesa, uma revolução silenciosa mudou a forma como o mundo enxerga Beaujolais e seus Crus.
Essa resolução, aliás, teve nome e sobrenome. Ou melhor, quatro nomes: Marcel Lapierre, Jean Foillard, Guy Breton e Jean-Paul Thévenet — o quarteto que ficou conhecido como a “Gang of Four”.
Por que esse nome?
O termo “Gang of Four” foi cunhado pelo crítico americano Kermit Lynch, uma lenda no mundo da importação de vinhos. Ele percebeu que esses quatro produtores, apesar de estilos diferentes, estavam unidos por um propósito: resgatar a autenticidade do terroir de Beaujolais e produzir vinhos naturais, vivos e profundos — em oposição ao estilo padronizado e industrial que dominava a região na época.
A herança de Jules Chauvet
Por trás dessa revolução, havia um mentor: Jules Chauvet, enólogo e químico, talvez o primeiro a falar com consistência sobre vinhos naturais — ou seja, vinhos feitos com mínima intervenção, leveduras indígenas, pouco ou nenhum SO₂, e vinhedos cultivados com o máximo de respeito à natureza.
Assim, Chauvet influenciou diretamente Marcel Lapierre, que acabou se tornando o coração do movimento. Juntos, Foillard, Breton, Thévenet e Lapierre decidiram nadar contra a corrente — e provar que a uva Gamay, tão subestimada, podia dar origem a vinhos sérios, complexos e longevos.
O que une os quatro?
Apesar de terem personalidades e estilos distintos, todos os membros da Gang of Four compartilham algumas práticas:
- Agricultura orgânica ou biodinâmica
Nada de agrotóxicos ou fertilizantes sintéticos. O foco está em manter o solo vivo e equilibrado. - Fermentação espontânea
Esqueça as leveduras industriais. Eles confiam no que está naturalmente presente nas uvas e no ambiente da adega. - Pouca intervenção na vinificação
Pouco ou nenhum uso de SO₂, zero chaptalização (adição de açúcar), nada de filtragem ou clarificação agressiva. - Maceração carbônica cuidadosa
A famosa técnica de vinificação do Beaujolais é usada, mas com cuidado e respeito ao caráter da fruta.
Quem são eles?
Marcel Lapierre (Morgon)
O patriarca. Seus vinhos são sinônimos de pureza e energia. Após sua morte em 2010, seu filho Mathieu Lapierre assumiu o domínio e manteve o legado com maestria.
Jean Foillard (Morgon)
Possivelmente o mais representativo do grupo. Seus vinhos têm profundidade, textura sedosa e uma vibração quase elétrica e seu Côte du Py é uma referência mundial.
Guy Breton (Morgon)
O mais “punk” do grupo, também conhecido como “Petit Max”. Seus vinhos são mais delicados, muitas vezes com menos extração, mas sempre com muita finesse.
Jean-Paul Thévenet (Villié-Morgon)
Clássico e consistente. Seus vinhos têm uma elegância terrosa e uma rusticidade encantadora. Hoje, quem toca o domaine é seu filho, Charly Thévenet, mantendo o espírito da Gang vivo e atual.
Por que isso importa?
A Gang of Four não apenas redefiniu Beaujolais — eles ajudaram a moldar toda a cena dos vinhos naturais na França e no mundo. Com isso, eles abriram caminho para uma nova geração de produtores que valorizam o caráter do lugar, o ritmo da natureza e a liberdade do vinho de ser o que ele quiser ser.
Hoje, Beaujolais voltou a ser sinônimo de autenticidade e prazer. Assim, a Gamay, antes considerada uma uva “menor”, se transformou em estrela — versátil, vibrante, deliciosa.
Por isso, orgulhosamente, a Cellar traz com exclusividade para o Brasil dois dos quatro produtores membros da Gang of Four: Jean Foillard e Jean-Paul Thévenet. Seus rótulos são cultuados mundo afora, procurados por colecionadores, sommeliers e apaixonados por vinhos naturais. E agora, eles podem estar na sua taça.
Quer provar um Beaujolais da Gang? Comece pelo Jean Foillard Morgon Côte du Py. Depois nos conte nos comentários se ainda acha que Gamay é “vinho simples”.